Tubulações Muito Suspeitas
"As Colunas do Firmamento foram pintadas no turno da noite,
depois do último cliente, quando o restaurante se fecha e o último dos garçons já está à paisana no ponto de ônibus, esperando faz um tempo.
Nesse momento eu costumava ouvir alguma coisa além da música ambiente que vem do salão principal. Uma vibração, um murmurar. Como se o metrô passasse dentro daquelas colunas. Encostava meu ouvido nelas e desconfiava. Não eram apenas os alicerces do prédio.
Algo se passava ali dentro. Na verdade, eram Tubulações muito Suspeitas. De uma delas desciam cascatas de sons que lembravam toneladas de leviatãs em uma enroscada dança, numa verdadeira suruba em direção às entranhas da cidade. Na outra, ouvia como que um farfalhar de asas em redemoinho em direção ao coração da lua.
Aquilo me tirava todo o sono e o trabalho rendia como nunca antes. Quando dava por mim, voltava a ouvir a música do salão e me lembrava do prato de comida do restaurante (muito boa por sinal), guardado sempre com cuidado pra quando eu tivesse fome. Fim da linha. Dali, não demorava muito, pra que o encanamento levasse embora a água suja dos pincéis rendidos, os homens se vestissem novamente de garçons e o restaurante reabrisse para o café da manhã"
Manu Maltez
Texto para a exposição realizada em 2012
no Jorge Restaurante em São Paulo.
Matéria da revista Brasileiros sobre a exposição